Lesa Pátria: o que a PF já descobriu nas 26 fases da operação

Nas 26 fases da operação, a PF realizou 100 prisões preventivas e vasculhou 365 endereços

atos golpistas 8 de janeiro na Praça dos 3 Poderes
A PF investiga a suposta participação de militares no início das invasões.

A Polícia Federal tem conduzido investigações sobre os responsáveis pelos ataques golpistas ocorridos em Brasília, em 8 de janeiro de 2023, que resultaram na depredação dos prédios do Congresso Nacional, do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Palácio do Planalto. A Operação Lesa Pátria tem como objetivo identificar os articuladores, financiadores e responsáveis pelos atos antidemocráticos. Até o momento, as investigações indicam a existência de uma rede de apoio, incluindo empresários, fazendeiros, influenciadores e políticos, que possibilitaram a vinda de vândalos para Brasília, além da conivência de policiais militares durante a invasão aos Três Poderes.

Desde 20 de janeiro de 2023 até a data de hoje, 16 de março, quando foi deflagrada a 26ª fase da operação, a Polícia Federal já realizou 100 prisões preventivas e vasculhou 365 endereços. Os suspeitos podem responder por crimes como abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado, associação criminosa, incitação ao crime, destruição e deterioração ou inutilização de bem especialmente protegido.

Os envolvidos são acusados de crimes graves como:

  • Abolição violenta do Estado Democrático de Direito
  • Golpe de Estado
  • Dano qualificado
  • Associação criminosa
  • Incitação ao crime
  • Destruição e deterioração de bens públicos

Os alvos da operação incluem apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) que estavam presentes em Brasília no dia 8 de janeiro e participaram da invasão e depredação dos Três Poderes. A PF já identificou e prendeu indivíduos como Aildo Francisco Lima, que filmou a si mesmo sentado na cadeira do ministro do STF Alexandre de Moraes durante os ataques, e Nelson Ribeiro Fonseca Junior, que furtou uma bola autografada pelo jogador Neymar Júnior que estava exposta no Congresso – a qual foi recuperada três semanas após a invasão. Antônio Cláudio Ferreira, responsável por quebrar o raro relógio de Dom João VI, também foi preso.

Dentre os detidos, está Débora Rodrigues dos Santos, flagrada pichando a frase “perdeu, mané” na estátua da Justiça em frente ao prédio do STF, durante a oitava fase da operação em 17 de março do ano passado, junto com outros 31 suspeitos. Em fevereiro do mesmo ano, o sargento da Polícia Militar William Ferreira da Silva, que fez vídeos subindo a rampa do Congresso e dentro do STF, também foi preso como alvo da operação.

Outro aspecto da investigação da PF é identificar quem financiou ou arrecadou recursos para apoiar os vândalos em sua ida a Brasília, incluindo fornecimento de água e comida para sua permanência na capital. Um dos investigados é o deputado estadual de Goiás Amauri Ribeiro (União), que teve seu endereço alvo de busca e apreensão em agosto do ano passado e afirmou ter “ajudado a bancar” um acampamento golpista montado em frente a um quartel do Exército.

Na penúltima fase da operação, em 29 de fevereiro, dois suspeitos de terem financiado o acampamento golpista em Brasília foram presos. Joveci Xavier de Andrade e Adauto Lúcio de Mesquita são sócios de uma rede de supermercados. Na operação desta terça-feira, 16, outro suspeito de ajudar a financiar os atos foi alvo de busca e apreensão. O publicitário Rafael Moreno utilizou suas redes sociais para afirmar que participou de um financiamento coletivo e que os valores arrecadados foram utilizados exclusivamente para aquisição de alimentos, remédios, barracas, colchões e aluguel de tendas para o acampamento em frente aos quartéis, negando sua participação nos eventos de 8 de janeiro.

A operação também alcançou o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ), líder da oposição na Câmara. As buscas relacionadas ao deputado foram motivadas por mensagens trocadas com uma liderança de extrema direita, responsável por organizar bloqueios de estradas após as eleições de 2022.

A PF também prendeu suspeitos ou realizou buscas e apreensões em endereços de indivíduos que incentivaram as ações de vandalismo. Um dos casos mais conhecidos até agora foi a prisão de 10 membros do grupo conhecido como “Festa da Selma”, codinome utilizado para se referir à invasão. Entre os presos estão os influenciadores digitais Isac Ferreira e Rodrigo Lima, o pastor Dirlei Paz e a cantora gospel Fernanda Ôliver, conhecida como a “musa” dos atos golpistas.

Outros alvos, relacionados à 20ª fase da operação, também estão sendo investigados por incentivar outras pessoas a participarem do ataque às instituições, enquanto eles próprios estavam no local e gravaram vídeos.

A PF também está investigando a suposta participação de militares no início das invasões aos Três Poderes. Por exemplo, foram realizadas buscas no endereço do general da reserva Ridauto Lúcio Fernandes, suspeito de ter sido um dos idealizadores da ofensiva antidemocrática.

A cúpula da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) também está sendo investigada, e quatro oficiais da corporação foram presos por suspeita de omissão e conivência com os invasores. No dia dos ataques, o Estadão relatou que a corporação permitiu que os vândalos circulassem livremente pela área, sem qualquer restrição. Esses oficiais ainda estão detidos e aguardam julgamento, enquanto outros três policiais, presos em outra operação, foram libertados por ordem de Moraes no dia 28.

Segundo o último balanço divulgado pela PF em janeiro, quando o aniversário de um ano da invasão foi celebrado, 1.393 pessoas foram presas em flagrante na Praça dos Três Poderes. Além das prisões, que já somam 100 em 26 fases da operação, bens no valor de R$ 11,6 milhões foram bloqueados dos investigados. O prejuízo com a depredação é estimado em R$ 40 milhões, de acordo com a PF.

Estatísticas e Impactos

Até o momento, a Operação Lesa Pátria registrou:

* 1.393 prisões em flagrante no dia do ataque

* 100 prisões preventivas nas 26 fases

* R$ 11,6 milhões em bens bloqueados

* R$ 40 milhões em danos materiais estimados