A série Adolescência, fenômeno global da Netflix, reacendeu debates sobre masculinidade tóxica, discursos de ódio e a influência digital sobre jovens. No centro dessa discussão está Andrew Tate, o autoproclamado “influenciador misógino” citado pelos criadores da produção como inspiração para o protagonista, um adolescente “doutrinado por vozes” extremistas.
Quem é Andrew Tate?
Nascido nos EUA e criado no Reino Unido, Tate, de 38 anos, construiu uma imagem pública controversa. Ex-lutador de kickboxing com quatro títulos mundiais, ele ganhou notoriedade ao participar do *Big Brother UK* em 2016, de onde foi expulso após um vídeo — que ele alega ter sido editado — mostrá-lo agredindo uma mulher. Sua fama, no entanto, explodiu nas redes sociais, onde acumula mais de 10 milhões de seguidores no X (antigo Twitter), ostentando carros de luxo, iates e um estilo de vida milionário.
A retórica da “ultramasculinidade”
Tate se autointitula um “realista” e defende a “ultramasculinidade”, pregando que homens devem dominar todos os aspectos da vida, incluindo as mulheres. Frases como *”uma mulher precisa entender que o homem é uma montanha de ferro e que o caminho mais fácil é obedecer”* resumem sua visão, classificada como misógina por críticos. Em 2022, foi banido do Facebook, Instagram e TikTok por violar políticas contra discurso de ódio, mas mantém presença ativa no X.
Polêmicas e confrontos
Além da misoginia, Tate viralizou em dezembro de 2022 ao desafiar a ativista Greta Thunberg, orgulhando-se de ter 33 carros poluentes e prometendo enviar a ela detalhes de suas “enormes emissões”. O episódio ilustra sua tática de gerar engajamento através de provocações.
Acusações criminais e prisão
Em dezembro de 2022, Tate e seu irmão Tristan foram presos na Romênia sob acusações de tráfico humano, estupro, formação de quadrilha e exploração sexual de 35 mulheres, incluindo uma adolescente de 15 anos. Os irmãos passaram meses entre a prisão e a domiciliar, sendo libertados em fevereiro de 2024, embora o caso continue em investigação. A Justiça romena ordenou que promotores reavaliassem as provas após apontar inconsistências, decisão que Tate comemorou como vitória.
O Reino Unido também busca sua extradição por acusações de estupro, e ambos os irmãos são investigados por evasão fiscal. Tate alega que as acusações são parte de um “ataque coordenado” contra sua figura.
Conexão com adolescência e impacto social
A série destaca como jovens são influenciados por figuras como Tate, cujos discursos ecoam em algoritmos de plataformas sociais. Jack Thorne, roteirista da produção, explica que o protagonista é “manipulado por ideias que distorcem a masculinidade”, reflexo de um fenômeno real. Especialistas alertam para o risco de normalização da misoginia entre adolescentes, especialmente meninos que consomem conteúdo de “influenciadores do ódio”.
Um símbolo de polarização
Enquanto Tate celebra sua liberdade e se declara “injustiçado”, organizações de direitos humanos e vítimas de violência genderificada veem seu caso como um teste para a Justiça global. Sua ascensão expõe falhas no combate ao discurso de ódio online e revela como a ostentação de riqueza e a retórica agressiva podem conquistar audiências jovens.
Enquanto isso, Adolescência serve como um espelho perturbador: um alerta sobre como as telas podem moldar mentes em formação — e até onde a idolatria a figuras como Andrew Tate pode levar.