Há 40 anos o jornalista Mário Eugênio, o Gogó das Sete, era assassinado em Brasília

Frank Barroso
5 Min Read
Disclosure: This website may contain affiliate links, which means I may earn a commission if you click on the link and make a purchase. I only recommend products or services that I personally use and believe will add value to my readers. Your support is appreciated!
Aos 31 anos, Mário Eugênio foi executado com sete tiros na cabeça, quando saía da Rádio Planalto por volta da meia noite.

No dia 11 de novembro de 1984, Brasília perdeu uma de suas vozes mais ousadas e corajosas. O jornalista Mário Eugênio Rafael de Oliveira, conhecido como Marão, foi brutalmente assassinado, aos 31 anos, no auge de uma carreira dedicada a revelar as complexidades da criminalidade na capital do país. Nascido em Comercinho, no interior de Minas Gerais, ele formou-se em comunicação social pela Universidade de Brasília (UnB) e rapidamente ganhou destaque no jornalismo policial, onde ousou expor as injustiças e o lado sombrio da cidade em que trabalhava.

Mário Eugênio trabalhava no Correio Braziliense, onde era o único repórter policial da redação, e também apresentava o programa de rádio Gogó das Sete na Rádio Planalto, líder de audiência em Brasília. Foi através desses meios que ele estabeleceu uma conexão direta com o público, mostrando um jornalismo incisivo e investigativo que, frequentemente, desafiava o poder estabelecido. Em suas reportagens, Mário não fazia distinção: denunciava com a mesma intensidade tanto os criminosos comuns quanto aqueles protegidos por cargos de autoridade.

Aos 31 anos, Mário Eugênio foi executado com sete tiros na cabeça, quando saía da Rádio Planalto por volta da meia noite. Ele havia acabado de gravar o programa Gogó das Sete que iria ao ar no dia seguinte. Os tiros foram disparados pelo policial civil Divino José de Matos, conhecido como Divino 45.

O trabalho de Mário Eugênio, especialmente no programa de rádio, passou a incomodar muitos — inclusive as forças policiais do Distrito Federal, sobre as quais ele trouxe à tona acusações graves. Em uma de suas investigações mais polêmicas, denunciou que policiais, sob o comando do então secretário de Segurança Pública Lauro Rieth, estavam envolvidos em atividades de extermínio. Em uma época em que o Brasil ainda lutava para se libertar das amarras de uma ditadura militar que censurava e perseguia jornalistas, ele ousou expor o lado obscuro daqueles que deveriam proteger a população.

Por suas denúncias e coragem, Mário Eugênio foi ameaçado diversas vezes. No entanto, isso não o impediu de continuar, impulsionado por um senso de justiça único. Em uma ocasião, foi criticado por mostrar o lado humano de um criminoso, expondo sua vida difícil e os problemas familiares. Ele acreditava que a compreensão do contexto social era fundamental para uma análise mais justa dos indivíduos envolvidos na criminalidade. Sua abordagem humanizadora destoava do sensacionalismo, abrindo espaço para um jornalismo que buscava entender a raiz dos problemas sociais.

Na noite de 11 de novembro de 1984, Mário Eugênio foi alvejado com sete tiros na cabeça ao deixar a Rádio Planalto, no Setor de Rádio e Televisão Sul, em Brasília. O horário exato, 23h55, marca o momento em que o Brasil perdeu um dos seus jornalistas mais dedicados e comprometidos com a verdade. O assassinato de Marão é um marco doloroso da história da imprensa no país, evidenciando os riscos enfrentados por aqueles que se dedicam a expor a corrupção e a violência de setores que deveriam estar a serviço da sociedade.

Quarenta anos após sua morte, lembrar a trajetória de Mário Eugênio é essencial para a preservação da memória de um jornalismo combativo, feito com coragem e senso ético. Em tempos de retrocessos e ameaças constantes aos jornalistas, a história de Marão nos lembra do papel fundamental da imprensa na democracia e da importância de não permitir que a impunidade silencie as vozes que se levantam em nome da verdade e da justiça. A memória de Mário Eugênio nos convida a refletir sobre os desafios do jornalismo independente e a importância de dar continuidade a esse legado de coragem e integridade.

Compartilhe este arquivo
Bacharel em geografia pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU); jornalista profissional desde 1987, web design há mais de 20 anos. gestor social, líder comunitário, ecologista. Frank é pesquisador na área de planejamento urbano, mobilidade sustentável e geomarketing.